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Perfil lipídico: aliado na prevenção das doenças ateroscleróticas

A doença cardiovascular aterosclerótica é responsável pela metade da morbidade e mortalidade em todo o mundo. Este processo se inicia desde a infância e as manifestações clínicas ocorrem mais tarde, na vida adulta. A doença aterosclerótica coronariana é o principal vetor de mortalidade. Entretanto, as doenças cerebrovasculares (ligadas aos vasos que irrigam o cérebro) e vasculares periféricas (ligadas aos vasos dos membros inferiores e superiores) são também importantes fatores de morbimortalidade.

A aterosclerose é um processo multifatorial e, quanto maior o número de fatores de risco, maior o grau e gravidade da doença. Alguns dos fatores identificados são dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo e sedentarismo.

O Departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, acompanhando o amplo cenário de publicações científicas sobre o tratamento das dislipidemias e prevenção da aterosclerose e a importância do seu impacto sobre o risco cardiovascular, reuniu um comitê de especialistas para apresentar a atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, publicada no Arquivos Brasileiros de Cardiologia em outubro de 2013.

O perfil lipídico inclui a dosagem do colesterol total (CT), HDL-colesterol (HDL-C), triglicérides (TG) e os cálculos para a estimativa do VLDL-colesterol e do LDL-colesterol (LDL-C). As medidas tradicionais de risco cardiovascular, como CT e LDL-C, são man¬tidas e corroboradas por evidências de numerosos estudos, constituindo-se no principal alvo terapêutico na prevenção da doença cardiovascular. Os valores referenciais do perfil lipídico para crianças e adolescentes foram estreitados e o colesterol não-HDL deve agora ser incluído nesta avaliação, sendo seus valores estabelecidos para a faixa etária adulta.

A fração colesterol não-HDL é usada como estimativa do número total de partículas aterogênicas no plasma: VLDL + IDL + LDL e refere-se também aos níveis de apolipoproteína (apo) B (a principal apoproteína destas partículas atero¬gênicas). O colesterol não-HDL é calculado facilmente pela subtração do HDL-C do CT: Colesterol não-HDL = CT – HDL-C. O colesterol não-HDL pode fornecer melhor estimativa do risco em comparação com o LDL-C, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia associada ao diabetes, à síndrome metabólica ou à doença renal.

A estratificação do risco por etapas, analisando a presença de doença aterosclerótica significativa ou de seus equivalentes, o Escore de Risco Global e os fatores agravantes, define a meta terapêutica a ser adotada, conforme tabela abaixo

Tabela 1 – Metas lipídicas de acordo com o risco cardiovascular

 

Nível de risco Meta primária: LDL-C (mg/dL) Meta secundária: Colesterol não-HDL (mg/dL)
ALTOINTERMEDIÁRIO 

BAIXO

 

LDL-C < 70LDL-C < 100 

Meta individualizada

 

Colesterol não-HDL < 100Colesterol não-HDL< 130 

Meta individualizada

 

Para a adequada avaliação dos parâmetros lipídicos, a coleta de sangue deverá ser realizada após jejum de 12 horas para análise das concentrações de triglicérides, como também para o cálculo do LDL-C pela fórmula de Friedewald. As determinações do CT, apo B, apo A-I e HDL-C podem ser analisadas em amostras coletadas sem jejum prévio. A determinação do perfil lipídico deve ser feita em indivíduos com dieta habitual, esta¬do metabólico e peso estáveis por pelo menos duas semanas antes da realização do exame. Além disso, devem-se evitar ingestão de álcool e atividade física vigorosa nas 72 e 24 horas que antecedem a coleta de sangue, respectivamente.

Em meados de outubro, representantes de quatro Sociedades Científicas nacionais1 se reuniram na sede da Sociedade Brasileira de Cardiologia e assinaram, em conjunto, um documento que sugere a uniformização dos laudos laboratoriais de perfis lipídicos em relação aos valores de referência, inclusão do colesterol não-HDL e alerta indicativo para a possibilidade do diagnóstico de Hipercolesterolemia Familiar, quando os valores de CT encontrarem-se maiores ou iguais a 310 mg/dL em adultos ou maiores ou iguais a 230 mg/dL em indivíduos entre 2 e 19 anos de idade.

A mortalidade por doença aterosclerótica é a principal causa de morte no país e o colesterol elevado possui evidências para ser consi¬derado o principal fator de risco modificável com base em estudos científicos. Torna-se lógico, então, que reduções de colesterol, principalmente nos níveis de LDL-C, por meio de mudanças no estilo de vida e/ou fármacos, ao longo da vida, tenham grande benefício na redução de desfechos cardiovasculares.

Clique AQUI para ler a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção de Aterosclerose.

1 Sociedade Brasileira de Cardiologia – Departamento de Aterosclerose – SBC/DA; Sociedade Brasileira de Análises Clínicas – SBAC; Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial – SBPC/ML; Sociedade Brasileira de Biomedicina – SBBM.

 

Referência:
Arq Bras Cardiol. 2013;101(4Supl.1):1-22. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.